segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Conhecendo poetas...

Drummond, Pessoa, Vinícius... Poetas que há muitos anos aprendi (se é que isso se aprende...) a admirar. Mãe professora de literatura, amante da poesia e da música popular brasileira, sem dúvida, abriu meu caminho até as maravilhas escritas e cantadas por estes e outros.


Há poucos meses, "apresentado a mim" por alguém especial, também poeta, um "novo" poeta entrou para o grupo dos que admiro, dos que me encantam: Thiago de Mello, poeta da Amazônia. Segue aqui uma de suas peças mais lindas...



Faz mormaço na floresta
* Não quero que me cedas, 
nem me concedas nada
de teu, só por amor.
De dádiva, já basta
tu inteira na luz
que do teu corpo nasce.
Quero só que tu queiras,
de coração cantando,
vir comigo acender
toda paz das estrelas
que abraçados inventam
o teu corpo e o meu.
* A cuia morna do ventre
da cunhatã estendida
tomo nas mãos e sorvo
sem sofreguidão a luz
que líquida se derrama
entre as vertentes das coxas.
Firme a forquilha das ancas
a coluna se recurva:
faz mormaço na floresta.
Um suor escorre da nuca
porejada de hortelã
e o chão se encharca de festa.
*Calor molhado de sesta
nos envolve sobre a areia.
Crescem cantos na floresta
quando as asas quentes pousas
de tua boca em meu peito:
estirado me floresço.
Fogo ondulado, teu dorso
que me lentamente desce,
enquanto, árvore, cresço.
Sombra ardente que me guia,
tua cabeleira baila
na esparramada alegria.
* É quando mordo a luz
do teu peito que tenho
o que perdi sem ter.
Quando me vi, foi quando,
mal te entrevi, abriste
o sol dos teus cabelos.
Nenhum espelho nunca
(nem o secreto lago
em que me espio o ser)
me desvelou, relâmpago,
quanto o tremor alçado
de teus joelhos, chamando.
(Thiago de Mello)

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