domingo, 21 de março de 2010

Nasci para ser...


Parece esta a questão do dia (da semana? mês? ano?) para mim: nasci para fazer o que da minha vida? Que atividade me faz ou me faria feliz? Como vim parar aqui? Será que faço bem o que me propus a fazer? Como dar conta de tudo isso?

E será que a gente nasce para alguma coisa? Acho que não, não especificamente. Ou melhor, acho que a gente nasce para um monte de coisas: milhares de possibilidades de vir a ser que vão acontecendo de acordo com o nosso percurso; percurso este que a gente não conhece com antecedência. Embora nossas escolhas tenham grande influência sobre este caminho, são apostas, riscos que corremos, sem a certeza do resultado...

Uma série que questões interferem nas nossas "escolhas", no nosso caminho: desde antes de nascermos, as expectativas de nossos pais; as escolas que podemos frequentar; os valores que nos cercam e nos permeiam; as ambições que temos, os desejos de consumo, a vontade de ter - é preciso ganhar para isso... O que gostamos de fazer, com o que nos identificamos; e mais um monte de coisas que nos cansariam demais relatar aqui. Tudo misturado, às vezes resulta em uma atividade que nos satisfaz, que nos realiza. Às vezes chegamos a uma "ocupação/profissão" que atende a alguns desejos - o do bom salário, por exemplo - mas não a outros - a realização, por exemplo. "Sortudamente", diriam alguns, pode ser que se chegue a uma atividade que conjuga todas as coisas, e ainda nos traz reconhecimento."Sortudamente", acredito eu, porque se considera isso algo muito difícil, mesmo raro hoje em dia...

Muitas vezes, uma insatisfação com o que se faz, com o trabalho, vai sendo compensada com a felicidade na realização de atividades fora do trabalho, um hobby, um esporte, arte, artesanato, cultura... Para alguns, essa parece a única alternativa. Mas não gostaria de acreditar nisso.Ainda que seja um sonho, quero acreditar que é possível encontrar satisfação também no trabalho, para que este seja mais do que um "meio de vida", uma "fonte de sustento"...

Claro que, sendo todas estas questões humanas, são dinâmicas, quero dizer, vão se transformando ao longo do caminho. E aí, o que nos satisfaz hoje, pode não ser o mesmo que nos satisfaz amanhã. É bem provável que, mesmo com o trabalho, com a profissão que escolhemos, o casamento não seja para sempre... ou pelo menos não com o mesmo entusiasmo do início...

Quero acreditar que o trabalho pode ser mesmo, como disse Winnicott, "herdeiro do brincar". Se pensarmos na centralidade e na riqueza do brincar para a criança, fica fácil imaginar a riqueza e a importância do trabalho para o adulto como herdeiro do brincar da infância. É preciso continuarmos brincando, cada um a sua maneira, mas brincando. Se não, a vida fica muito dura...